Outubro Negro
Vários colegas criticaram nossa posição de combater a mamografia (publicada no artigo Mamografia Fazer ou Não Fazer?) como método de rastreio do câncer de mama e até o ensino de outros colegas a realizarem exames de rastreio da mama totalmente sem efeitos biológicos!!!
Não entendo essa predileção pela mamografia, quando os exames inócuos são os preferíveis, quando o procedimento será repetido muitas e muitas vezes ao longo da vida da mulher.
A estes digo que existem métodos de rastreio do câncer de mama sem efeitos biológicos, que podem substituir a mamografia, sobre os quais podemos com certeza dizer: se não fizerem bem, mal não farão, o que não vale para a mamografia – que não reduz a mortalidade do câncer de mama, irradia, é cancerígena e faz muitos diagnósticos excessivos (1 de cada 3 diagnósticos o câncer não existe ou não se desenvolveria durante a vida da mulher, graças aos nossos mecanismos imunitários bem conhecidos).
Refiro-me a métodos como a Termografia, Ultrassonografia, especialmente quando associada ao Doppler e a Elastografia (Exame Tríplice). Acontece que estamos atualmente afogados em meio a tanta propaganda enganosa, com muito viés emocional do outubro rosa (negro de mentiras) e financeiro.
Sugiro que façam a seguinte pesquisa: quantos médicos proeminentes e formadores de opinião possuem mamógrafos no seus consultórios e recomendam enfaticamente o método, ignorando toda a informação científica contrária à mamografia? Estes sérios conflitos de interesses não dão credibilidade às suas palavras a favor da mamografia, muito menos permite que contradigam a recomendação da Cochrane de abolição do método, por considerá-lo inútil e prejudicial às mulheres, inclusive aumentando as mastectomias desnecessárias (decorrência dos falso-positivos).
A pobreza da mamografia
Eu tive mamógrafo em meu consultório e me desfiz dele após constatar que conseguia mais diagnósticos conclusivos com minha sonda de US do que com a mamografia e melhor de tudo: sem prejuízo às células e genes das minhas pacientes. Continuo até hoje examinando as mamografias que as pacientes me trazem antes de realizar o exame tríplice e sempre fico impressionada com a pobreza de informações do método, a despeito dos seus avanços (a mamografia digital só aumentou a detecção das microcalcificações e os falso-positivos do carcinoma in situ- que é fator de risco apenas).
E as minhas impressões iniciais foram corroboradas pelos estudos sérios e sem conflitos de interesses conduzidos pela Cochrane.
Foi quando decidi proteger as mulheres dos maus exames preventivos, já que ninguém mais se habilitou para a tarefa.
Missão: ensinar mais médicos do Brasil
E este ano cheguei à conclusão que precisaria ir além, ensinando médicos ultrassonografistas do Brasil a aprenderem estes novos métodos inócuos de rastreio do câncer de mama. E vamos continuar nesta missão, pois temos que colocar algo nesse vazio que está se formando no rastreio do câncer de mama a medida que mais e mais mulheres se conscientizem sobre a inutilidade e perigos da mamografia.
• • •
Aos colegas que lerem esta mensagem convido-os a se solidarizar com as nossas pacientes do sexo feminino, suas esposas, mães, tias, filhas e avós e nos ajudarem na divulgação destas informações.
• • •
Servir com integridade ao país
Aos que pensam que está fácil esta jornada solitária afirmo que não. Mas sou filha do Prof. Dr. Warwick E Kerr, que combateu a ditadura militar no Brasil por 25 anos, embora tenha sido duas vezes preso, tendo resistindo bravamente a ser expulso do país e aqui teve uma papel relevante, fundando a FAPESP, fundando centros de pesquisa em vários pontos do país, ensinando em várias universidades, criando o 5º maior laboratório de genética do país, além de ajudar pesquisadores, professores e cientistas a escaparem das torturas da ditadura militar e muito mais!
O que quero dizer é simples: nossa família tem tradição de servir ao país com integridade e competência.
Minha campanha contra a mamografia é reflexo da minha criação.
Dra. Lucy Kerr.